Teorias sobre a origem do Estado (textos de Gilberto Cotrim).
Texto1 1º ano 3º Bimestre Estado: instituição
que detém o poder político( Gilberto Cotrim)
Vejamos agora uma das mais complexas
instituições sociais criadas pelo ser humano ao longo da história: o Estado.
O termo Estado deriva do latim
status (estar firme), significando a permanência de uma situação de convivência
humana ligada à sociedade política (cf. DALLARI, Elementos da teoria geral do
Estado, p.51).
Muitos estudiosos procuraram
compreender a realidade do Estado, mais foi o pensador alemão Max Weber
(1864-1920) quem elaborou uma conceituação, amplamente conhecida e debatida
entre os estudiosos do assunto (cf. WEBER, Ciência e política, p.56). A partir
de Weber podemos derivar o seguinte conceito: Estado é a instituição política
que, dirigida por um governo soberano, reivindica
o monopólio do uso legítimo da força física em determinado território, subordinando os membros da sociedade que nele vivem.
Texto
2 1º ano 3º bimestre: Origem do Estado
(Gilberto Cotrim)
Como se formou o Estado? E por quê?
As circunstâncias específicas que
deram origem á formação do Estado nas diversas sociedades humanas é um tema de
difícil verificação, embora tenha despertado muita especulação ao longo da
história da filosofia política, conforme veremos adiante.
Para a maioria dos autores, o Estado
nem sempre existiu. Sabe-se que as diversas sociedades, do passado e do presente,
organizaram-se sem essa instituição. Nelas, as funções políticas não estavam
claramente definidas e formalizadas em uma determinada instância de poder. No
entanto, em um dado momento da historia da maioria das sociedades, com o
aprofundamento da divisão social do trabalho, certas funções
político-administrativas e militares acabaram sendo assumidas por um grupo
específico de pessoas. Esse grupo passou a deter o poder de impor normas à vida
coletiva. Assim teria surgido o governo, por meio do qual foi se desenvolvendo
o Estado.
Texto
3 1º ano 3º bimestre: A posição de Platão ( Marilena Chauí)
Para Platão os seres humanos e a
pólis possuem a mesma estrutura. Os humanos são dotados de três almas ou
princípios de atividade: a alma concupiscente ou desejante (situado nas
entranhas ou baixo-ventre), que busca a satisfação dos apetites do corpo, tanto
os necessários à sobrevivência como os que simplesmente, causam prazer; a alma
irascível ou colérica (situada no peito ou no coração), que defende o corpo
contra as agressões do meio ambiente e de outros humanos, reagindo à dor na
proteção de nossa vida; e a alma racional ou intelectual (situada na cabeça),
que se dedica ao conhecimento.
Também a pólis possui uma estrutura
tripartite, formada por três classes sociais: a classe econômica dos
proprietários de terra, artesões e comerciantes, que garante a sobrevivência material da cidade; a classe
militar dos guerreiros, responsável pela defesa da cidade; e a dos magistrados,
que garante o governo da cidade sob as leis.
Um homem, diz Platão, é injusto
quando a alma concupiscente (os apetites e prazeres) é mais forte que as outras
duas, dominando-as. Também é injusto quando a colérica (a agressividade) é mais
poderosa do que a racional dominando-a.
O que é, pois, o homem justo? Aquele
cuja alma racional (pensamento e vontade) é mais forte as outras duas almas,
impondo à concupiscente a virtude da temperança ou moderação, e a colérica, a
virtude da coragem, que deve controlar a concupiscência. O homem justo é o
homem virtuoso; a virtude, do domínio racional sobre o desejo e a cólera. A
justiça ética é a hierarquia das almas, a racional, superior, que domina as
inferiores.
O que a justiça política? Essa mesma
hierarquia, mas aplicada à comunidade – os sábios legisladores devem governar,
os militares, subordinados aos legisladores, devem defender a cidade, os
membros da classe econômica, subordinados aos legisladores, devem assegurar a
sobrevivência da polis.
Como realizar a cidade justa? Pela
educação dos cidadãos – homens e mulheres (Platão não exclui as mulheres da
política e critica os gregos por excluí-las).
A cidade justa é governada pelos
filósofos, administrada pelos cientistas, protegida pelos guerreiros e mantida
pelos produtores. Cada classe cumprirá sua função para o bem da pólius,
racionalmente dirigida pelos filósofos.
Em contrapartida, a cidade, a cidade
injusta é aquele na qual o governo está nas mãos dos proprietários – que não
pensam no bem comum da polis e lutarão por interesses econômicos particulares –
ou a dos militares – que mergulharão a cidade em guerras para satisfazer seus
desejos particulares de honra e glória. Somente os filósofos têm como interesse
o bem geral da polis e somente eles podem governá-la com justiça.
Texto
4 1º ano 3º Bimestre: Questão da criação do Estado (Gilberto Cotrim)
Outra questão que preocupou bastante
os filósofos dos séculos XVII e XVIII foi a justificação racional para a existência das sociedades humanas e a criação do Estado. De modo geral, essa preocupação apresentou-se da seguinte
forma:
Qual
a natureza do ser humano? Qual o seu estado natural?- em suas diversas conjeturas, esses filósofos chegaram, em geral a conclusão básica de que
os seres humanos são por natureza livres e iguais.
Como
explicar então a existência do Estado e como legitimar seu poder? – com
base na tese de que todos são naturalmente livres e iguais, deduziram que, em
dado momento, por um conjunto de circunstâncias e necessidades, os indivíduos
se viram obrigados a abandonar essa liberdade e estabelecer entre si um acordo,
ou um pacto ou contrato social, o qual teria dado origem ao Estado.
Por esse motivo, essas explicações
ficaram conhecidas como teorias
contratualistas.
Texto
5 1º ano 3º bimestre: necessidade do Estado do Estado soberano
O primeiro grande contratualista foi
o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Em sua investigação, concluiu que
o ser humano, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de
sociabilidade, como afirmou Aristóteles.
Cada indivíduo sempre encara seu
semelhante como um concorrente que precisa ser dominado. Onde não houve o
domínio de um individuo sobre outro, dirá Hobbes, existirá sempre competição
intensa até que esse domínio seja alcançado.
Guerra de todos contra
Todos.
A conseqüência óbvia dessa disputa
infindável entre os seres humanos em estado de natureza foi gerar um estado de
guerra e de matança permanente nas comunidades primitivas. Nas palavras de
Hobbes, “o homem é o lobo do próprio homem” (da expressão latina homo homini
lúpus).
Só havia uma solução para dar fim à
brutalidade social primitiva: a criação artificial da sociedade política,
administrada pelo Estado. Para isso, os indivíduos tiveram que firmar um
contrato entre si (contrato social), pelo qual cada um transferiria seu poder
de governar a si próprio para um terceiro – o Estado -, para que este
governasse a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida
social.
Hobbes apresentou essas ideias
primeiro em sua obra O cidadão e depois em Leviatã. Nesta
última, compara o Estado a uma criação monstruosa do ser humano, destinada a
pôr fim à anarquia e ao caos da comunidade primitiva. O nome Leviatã refere-e
ao monstro bíblico citado no livro de Jó (40-41), onde é assim descrito:
O
seu corpo é como escudos de bronze fundido [...] Em volta de seus dentes está o
terror{...] O seu coração é duro como pedra, e apertado como a bigorna do
ferreiro. No seu pescoço está a força, e diante de vai a fome [...]Não há poder
sobre a Terra que se lhe compare, pois foi feito para não ter medo de nada.
Situação de aprendizagem 2
1ºano 3ºbimestre
O Estado, os poderes e as leis
Texto6 1ºano 3ºbimestre:
Fenômeno do poder (Gilberto Cotrim)
O que é poder? A palavra poder vem
do latim potere, posse. “poder, ser capaz de”.
Refere-se fundamentalmente à faculdade, capacidade, força ou recurso
para produzir certos efeitos. Assim, dizemos: o poder da palavra, o poder do
remédio, o poder da política, o poder da imprensa, o poder do presidente.
Talvez com base no sentido
etimológico da palavra, o filósofo inglês Bertand Russell (1872-1970) definiu o
poder como a capacidade de fazer que os
demais realizem aquilo que poderemos. Assim, o individuo que detém essa
capacidade – ou – meia tem a faculdade de exercer determinada influência ou
domínio sobre o outro e, por seu intermédio, alcançar os efeitos que desejar.
O fenômeno do poder costuma ser
divido em das categorias: o poder do ser
humano sobre a natureza e o poder do ser
humano sobre os outros seres humanos. Frequentemente, essas duas categorias
de poder estão juntas e se complementam.
Texto
7 1 ºano 3º bimestre Separação dos
poderes (Gilberto Cotrim)
É de
autoria do pensador Frances Charles de Montesquieu (1689-1755), a teoria a
respeito de uma das características mais interessantes mais interessantes do
Estado Moderno: a divisão funcional dos três poderes.
Ao
refletir sobre a possibilidade de abuso do poder nas monarquias, Montesquieu
propôs que se estabelecesse a divisão do poder político em três instancias: poder Executivo ( que executa as normas
e decisões relativas a administração pública), poder Legislativo (que elabora e aplica as leis) e poder Judiciário ( que aplica as leis e distribui a proteção jurisdicional pedida aos
juízes).
Em sua obra O espírito das leis
(1748) , Montesquieu assim escreve sobre a questão dos poderes:
Quando
os poderes legislativo e executivo ficam reunidos numa mesma pessoa ou
instituição do Estado, a liberdade desaparece[...] Não haverá também liberdade se o poder
judiciário se unisse ao executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E
tudo estaria perdido se uma mesma pessoa ou instituição exercesse os três
poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a sua execução e ode julgar os
conflitos entre os cidadãos. (p.168).
Embora já houvesse na época
uma divisão de poderes próxima da proposta pro Montesquieu, é significativa em
sua obra a ênfase atribuída à necessidade de separação desses poderes, que
devem ser exercidos por pessoas diferentes, e á necessidade entre elas.
Texto
8 1º ano 3º bimestre o que deve ser o Estado resposta liberal (Gilberto Cotrim)
Para o pensamento liberal, a função
do Estado é agir como mediador dos conflitos entre os diversos grupos sociais
entre os diversos grupos sociais, conflitos inevitáveis ente os homens. O
Estado deve promover conciliação dos
grupos sociais, amortecendo os choques dos setores divergentes para evitar a
desagregação da sociedade. A função do Estado é, portanto, a de alcançar a
harmonia entre os grupos rivais, preservando os interesses do bem comum.
Texto
9 1º ano 3º bimestre: Locke a concepção do Estado Liberal
Assim como Hobbes, o filósofo inglês
John Locke (1632-1704) também refletiu sobre a origem do poder político e sobre
sua necessidade para congregar os homens, que em estado de natureza, viviam
isolados.
No entanto, enquanto Hobbes imagina
um estado marcado pela violência e pela “guerra de todos contra todos”, Locke
faz uma reflexão mais moderada. Refere-se ao estado de natureza como uma
condição na qual, pela falta de uma normalização geral, cada qual seria juiz de
sua própria causa, o que levaria ao surgimento de problema nas relações entre
os homens.
Para evitar esses problemas, é que o
Estado teria sido criado. O Estado teria a função de garantir a segurança dos
indivíduos e de seus direitos naturais, como liberdade e a propriedade,
conforme expõe Locke em sua obra Segundo tratado sobre o governo.
Diferentemente de Hobbes, portanto,
Locke concebe a sociedade política como um meio de assegurar os direitos
naturais e não como o resultado de uma transferência dos direitos dos indivíduos para o
governante. E assim nasce a concepção de Estado Liberal, segundo a qual o
estado deve regular as relações entre os homens e atuar como juiz nos conflitos
sociais. Mas deve fazer isso garantindo as liberdades e direitos individuais,
tanto que se refere ao pensamento e expressão quanto à propriedade e atividade
econômica.
Texto
10 1º ano3º Bimestre O estado como instrumento de dominação de classe
Para os filósofos alemães Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), a sociedade humana primitiva era
uma sociedade sem classes e sem Estado. Nessa sociedade pré-civilizada, as
funções administrativas eram exercidas pelo conjunto dos membros da comunidade
(clã, tribo etc.)
Num determinado estágio do
desenvolvimento histórico das sociedades humanas, certas funções
administrativas, antes exercidas pelo conjunto da comunidade, tornaram-se
privativas de um grupo separado de pessoas que tinha força para impor normas e
organização á vida coletiva. Teria sido através desse núcleo que de pessoas que
se desenvolveu o Estado.
Isso teria ocorrido, segundo Marx e
Engels, em certo momento de desenvolvimento econômico em que surgiram as
desigualdades de classes e conflitos entre explorados e exploradores
antagônicas.
Até aqui, não estamos longe da
teoria liberal. Mas, conforme escreveu Engels em A origem da família da
propriedade privada e do Estado, embora o Estado tenha nascido da necessidade
de conter antagonismos, nasceu também no meio do conflito e, por isso, acabou
sendo sempre representado pela classe mais poderosa, aquela que tinha a força
para reprimir a classe dominada: os escravos na Antiguidade, os servos e
camponeses no feudalismo e os trabalhadores assalariados no capitalismo.
Assim Marx e Engels concebem o
Estado atuando geralmente como instrumento de domínio de classe. Na sociedade
capitalista, por exemplo, o domínio de classe se identificaria diretamente com
a proteção a propriedade privada dos que possuem, contrariando os interesses
daqueles que nada têm. Proteger a propriedade privada capitalista implica
preservar as relações sociais, as normas jurídicas enfim, a segurança dos
proprietários burgueses.
Essa concepção do estado como
instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, estabelece portanto, uma
relação de entre as condições materiais de existência de determinada sociedade
e a forma de Estado que ela adota. Ou seja, o Estado é determinado pela
estrutura social de modo a atender ás
demandas especificas de uma dada forma
de sociabilidade, garantindo que essa forma se mantenha.
Assim Marx e Engels diferenciam-se
de todos os outros autores anteriores, porque sua critica ao Estado não visava
atingir uma ou outra forma de Estado, mas a essência mesma do Estado de
qualquer Estado: o estado ser origina exatamente das insuficiências de uma
sociedade em realizar em si mesma, de forma concreta, os ideais universalistas,
ou seja, em garantir em sua dinâmica a igualdade de condições sociais.
Portanto, o Estado nasce de desigualdade para manter a desigualdade.
Texto 11 1º ano 3º bimestre:
O anarquismo
É comum as pessoas identificarem
anarquismo como caos, bagunça. Na verdade, não se trata disso. O
principio que rege o anarquismo é a preferência por alternativas de organização
voluntária em oposição ao Estado,
considerando nocivo e desnecessário. Para os anarquistas, se a religião, o
Estado e a propriedade contribuíram em determinado momento histórico para o
desenvolvimento humano, passaram depois a restringir sua emancipação.
A tese anarquista da negação do
Estado não se baseia em uma proposta individualista, porque o conceito de
organização não cooercitiva funda-se na
cooperação e não aceitação da comunidade. Trata-se de um aparente paradoxo,
esse da realização da ordem da anarquia, porque, para esses teóricos, a ordem
na anarquia é natural: são as instituições autoritárias que deformam e atrofiam
as tendências cooperativas humanas.
A estrutura da sociedade estatal é
artificial, por criar uma pirâmide em que a ordem é imposta de cima para baixo.
Na sociedade anarquista a ordem natural
expressa-se pela auto-disciplina e cooperação voluntária e não pela decisão hierárquica. Por isso os
anarquistas repudiam inclusive a criação de partidos, por prejudicarem a
espontaneidade de ação, tendo a se burocratizar e a centralizar o poder. Também
temem as estruturas teóricas, que tendem a se tornar um corpo dogmático. O
anarquismo, enfim, é mais conhecido como movimento vivo e não como doutrina.
A critica ao Estado leva à
inversão da pirâmide de poder
representada por essa instituição, e a organização social que deriva dessa
inversão rege-se pelo principio da descentralização procurando estabelecer a
forma mais direta de relação, ou seja, a do contato cara a cara. A
responsabilidade surge a partir dos núcleos vitais das relações sociais, tais
com em lugar de trabalho e bairros, nos quais são tomadas as decisões. Quando
isso não é possível, por envolver outros segmentos, federações devem ser
criadas. O importante, porém, é manter a participação, a colaboração, a
consulta direta entre as pessoas envolvidas.
Além do Estado os anarquistas
repudiam a estrutura hierárquica da Igreja e defendem o ateísmo como a condição
de autonomia do ser humano, liberto dos dogmas e da noção do pecado.
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