A violência nas escolas e na sociedade
A violência nas escolas e na sociedade
Um dos grandes problemas enfrentados pela sociedade contemporânea diz respeito à questão da violência. Um tema polêmico, pois, parece que, por mais que o discutamos o tema mais difícil é a sua solução.
Geralmente a violência é analisada de forma errônea e simplista, pois, temos o péssimo hábito, de entendermos somente o resultado final das atitudes violentas, e não analisar, a violência em si. Ou seja, na sua causa primeira na origem aquilo que da forma a ela.
Vivemos um difícil dilema, no ambiente escolar, pois, nós educadores, coordenadores, diretores e demais funcionários, da escola tanto pública, quanto da escola privada, presenciamos, ou melhor, vivenciamos as atitudes e ações violentas em nosso cotidiano.
Como a escola está inserida na sociedade, ela também convive com a violência. Assim como os alunos entram na escola, a violência também passa os muros e portões do ambiente escolar.
Mas afinal de contas qual é a origem da violência? Muitas respostas foram fornecidas ao longo da história. Muitos afirmam que ela nasce com o indivíduo, ou seja, ela é inata. Outros afirmam que o individuo adquire as atitudes violentas através do convívio social, ou seja, a sociedade é quem corrompe o indivíduo, tese defendida pelo grande filósofo Rousseau, particularmente, a teoria que procurarei defender neste texto.
O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) afirma na obra Do Contrato Social que:
A família é, pois se assim o quiser, o primeiro modelo das sociedades políticas: o chefe é a imagem do pai; os povos, a dos filhos, e todos nascendo iguais e livres, só alienam a sua liberdade em proveito próprio. A diferença toda está em que, na família, o amor do pai pelos filhos o paga pelos cuidados que lhes dispensa, enquanto no Estado o prazer de mandar substitui tal amor, que o chefe não dedica ao seu povo. (Do contrato social capítulo II Das primeiras sociedades p. 55 coleção Os pensadores).
Analisando a frase de Rousseau, podemos perceber um dos motivos que nos levam a viver em uma sociedade violenta. É do conhecimento de todos, a falta de estrutura de grande parte das famílias brasileiras, essa falta de estrutura contribui de forma significativa para a efetivação da violência em nossa sociedade.
Os pais segundo a afirmação de Rousseau são os responsáveis pelo bom governo das famílias, aqueles que deveriam formar o corpo familiar, em sua estrutura principal, e servir de exemplo para a formação social de seus filhos (cidadãos).
Porém, percebemos que ao longo do processo histórico educacional brasileiro, a formação dos indivíduos apresentou falhas que deixaram enormes lacunas no seu conjunto dificultando a capacidade de cada cidadão, responsável pela formação estrutural e consequentemente para o convívio familiar e com a sociedade. A falta de uma política educacional adequada fez com que muitas famílias se transformarem no caos que conhecemos e percebemos atualmente.
O caos que presenciamos hoje, no ambiente familiar, na escola e na sociedade, como um todo, tem uma base fundamental que se origina principalmente, pela falta de postura, de ética e de moral da sociedade, desde a classe mais rica, até as camadas mais pobres da sociedade.
A sociedade cobra atitudes corretas de seus membros, cria leis normas para punir os indivíduos que não as cumprem, mas será isso suficiente?
Como cobrar atitudes não violentas dos jovens, já que estes não foram educados para isso? Como cobrar amor daquele que convive com a violência? Como cobrar justiça daquele que convive com a injustiça?
Os jovens presenciam atitudes violentas a todo o momento. A impunidade, a corrupção tanto da classe política, que desvia verbas públicas; dos pais que subornam os guardas para evitar multas; dos “gatos” com a rede elétrica; dos empresários que sonegam impostos, ou seja, todo tipo de violência contra a moral e os bons princípios.
Além disso, muitas famílias não apresentam as condições mínimas necessárias para a formação de um indivíduo justo, para que este possa conviver em sociedade, já que ele presencia a violência em seu cotidiano; assiste em seu próprio lar agressões entre seus pais; além é claro e infelizmente os abusos sexuais frequentemente mostrados na mídia.
Todas essas questões apontadas acima, além é claro e da falta de uma boa formação intelectual e estrutural das famílias, e das instituições públicas, e de uma formação correta sobre os princípios básicos de justiça, contribui de forma concreta para essa realidade tão deprimente.
De todos os atos de violência apresentados neste texto e que presenciamos em nossa sociedade o maior deles é sem dúvida nenhuma, a da falta de compromisso do Estado. Dos responsáveis pelo Estado que não cumprem a sua função: falta de saúde, falta de educação de qualidade e dos recursos necessários para que ela seja aplicada, a falta moradia, as altas taxas do desemprego, as necessidades básicas para a boa formação do indivíduo e de uma vida digna e com qualidade.
O filósofo Platão defendia a tese, de que a cidade fosse dividida em três partes assim como a alma (corpo), onde cada parte teria uma função específica para o bom funcionamento da cidade. Os mais sábios seriam responsáveis por gerir o governo, já que, estes utilizariam a razão e a sabedoria para solução dos problemas em sociedade.
Já o filósofo inglês John Locke afirmou, que os homens pelo simples fato de nascerem, possuem três direitos naturais, a vida, a liberdade e a propriedade, porém para que esses direitos sejam garantidos é necessária a existência do Estado e de homens qualificados para a defesa e prática desses direitos.
O filósofo Thomas Hobbes afirma que sem as leis, sem um governo soberano, que seja capaz de lhe ensinar, mostrar-lhe o que é a virtude, o respeito, as leis, aos seus cidadãos e governá-lo, ocorreria à autodestruição do homem, pois, o homem vivendo sem o Estado, e sem as leis, viveria num estado natural, viveriam em uma situação de liberdade total, onde segundo Hobbes não teriam limites e todos seriam senhores. Hobbes a afirma que o homem é o maior predador do homem, ou utilizando uma frase mais conhecida, “O homem é o lobo do próprio homem.”
Então, a função do Estado é proteger os membros de seu corpo, dos perigos e das anomalias que eventualmente podem ocorrer, protegendo e fornecendo a todos os recursos necessários a sua sobrevivência.
Mas por que o Estado não cumpre sua função? Todos nós sabemos o porquê. O interesse privado está acima do interesse publico. Os responsáveis pelos governos não são sábios, e muito menos capazes de gerir o bom funcionamento das cidades. Utilizando do poder para ajudar amigos, parentes, o famoso nepotismo, ou melhor, sarneysismo prejudicando dessa forma o bom funcionamento da sociedade.
Nos membros da sociedade devemos lutar contra essas práticas habituais de nossos governantes, pois vivemos em regime democrático, onde o poder deve ser exercido pelos homens de maior virtude, como afirma Montesquieu em “O Espírito das Leis”, portanto devemos praticar o real significado da palavra democracia poder do povo. O poder é do povo, portanto devemos executá-lo. Uma frase para exemplificar essa atitude foi dita no filme “V de vingança”, que é a seguinte: “Não é o povo que deve temer o seu governo, e sim o governo é quem deve temer o seu povo”.
Qual é o papel da escola nesse contexto apresentado no texto, ela não tem culpa alguma? Ela é apenas uma instituição falida como muitos afirmam? Seus profissionais não são competentes? Qual é a função na sociedade?
A escola como afirmou Foucault:” seria a primeira instituição com o dever de preparar os indivíduos para o convívio em sociedade”, mas infelizmente isso não ocorre, pois as condições estruturais das escolas, não são adequadas, faltam recursos, equipamentos e principalmente compromisso dos responsáveis pela área da educação e isto inclui também nós professores, coordenadores, diretores.
Para finalizar espero que nós membros sociedade, profissionais da educação, governantes, possamos superar esse difícil dilema apresentado neste texto. Porém para que isso ocorra será necessário que todos nos conscientizemos, que de uma maneira direta ou indireta somos todos responsáveis por essa dura realidade.
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