A percepção Sensação e percepção
Convite à Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Unidade 4
O conhecimento
O conhecimento
Capítulo 2
A percepção
A percepção
Sensação
e percepção
O conhecimento sensível também é chamado de
conhecimento empírico ou experiência sensível e suas formas principais são a sensação
e a percepção.
A tradição filosófica, até o século XX,
distinguia sensação de percepção pelo grau de complexidade.
A sensação é o que nos dá as qualidades
exteriores e interiores, isto é, as qualidades dos objetos e os efeitos
internos dessas qualidades sobre nós. Na sensação vemos, tocamos, sentimos,
ouvimos qualidades puras e diretas: cores, odores, sabores, texturas. Sentimos
o quente e o frio, o doce e o amargo, o liso e o rugoso, o vermelho e o verde,
etc.
Sentir é algo ambíguo, pois o sensível é, ao
mesmo tempo, a qualidade que está no objeto e o sentimento interno que nosso
corpo possui das qualidades sentidas. Por isso, a tradição costuma dizer que a
sensação é uma reação corporal imediata a um estímulo ou excitação externa, sem
que seja possível distinguir, no ato da sensação, o estímulo exterior e o
sentimento interior. Essa distinção só poderia ser feita num laboratório, com
análise de nossa anatomia, fisiologia e sistema nervoso.
Quando examinamos a sensação, notamos que
ninguém diz que sente o quente, vê o azul e engole o amargo. Pelo contrário,
dizemos que a água está quente, que o céu é azul e que o alimento está amargo.
Isto é, sentimos as qualidades como integrantes de seres mais amplos e
complexos do que a sensação isolada de cada qualidade. Por isso, se diz que, na
realidade, só temos sensações sob a forma de percepções, isto é, de sínteses de
sensações.
Empirismo
e intelectualismo
Duas grandes concepções sobre a sensação e a
percepção fazem parte da tradição filosófica: a empirista e a intelectualista.
Para os empiristas, a sensação e a percepção
dependem das coisas exteriores, isto é, são causadas por estímulos externos que
agem sobre nossos sentidos e sobre o nosso sistema nervoso, recebendo uma
resposta que parte de nosso cérebro, volta a percorrer nosso sistema nervoso e
chega aos nossos sentidos sob a forma de uma sensação (uma cor, um sabor, um
odor), ou de uma associação de sensações numa percepção (vejo um objeto
vermelho, sinto o sabor de uma carne, sinto o cheiro da rosa, etc.).
A sensação seria pontual, isto é, um ponto do
objeto externo toca um de meus órgãos dos sentidos e faz um percurso no
interior do meu corpo, indo ao cérebro e voltando às extremidades sensoriais.
Cada sensação é independente das outras e cabe à percepção unificá-las e organizá-las
numa síntese. A causa do conhecimento sensível é a coisa externa, de modo que a
sensação e a percepção são efeitos passivos de uma atividade dos corpos
exteriores sobre o nosso corpo. O conhecimento é obtido por soma e associação
das sensações na percepção e tal soma e associação dependem da freqüência, da
repetição e da sucessão dos estímulos externos e de nossos hábitos.
Para os intelectualistas, a sensação e a
percepção dependem do sujeito do conhecimento e a coisa exterior é apenas a
ocasião para que tenhamos a sensação ou a percepção. Nesse caso, o sujeito é
ativo e a coisa externa é passiva, ou seja, sentir e perceber são fenômenos que
dependem da capacidade do sujeito para decompor um objeto em suas qualidades
simples (a sensação) e de recompor o objeto como um todo, dando-lhe organização
e interpretação (a percepção).
A passagem da sensação para a percepção é,
neste caso, um ato realizado pelo intelecto do sujeito do conhecimento, que
confere organização e sentido às sensações. Não haveria algo propriamente
chamado percepção, mas sensações dispersas ou elementares; sua organização ou
síntese seria feita pela inteligência e receberia o nome de percepção. Assim,
na sensação, “sentimos” qualidades pontuais, dispersas, elementares e, na
percepção, “sabemos” que estamos tendo sensação de um objeto que possui as
qualidades sentidas por nós. Como disse um filósofo, perceber é “saber que
percebo”; ver é “pensamento de ver”; ouvir é “pensamento de ouvir”, e assim por
diante.
Para os empiristas, a sensação conduz à
percepção como uma síntese passiva, isto é, que depende do objeto exterior.
Para os intelectualistas, a sensação conduz à percepção como síntese ativa,
isto é, que depende da atividade do entendimento.
Para os empiristas, as idéias são
provenientes das percepções. Para os intelectualistas, a sensação e a percepção
são sempre confusas e devem ser abandonadas quando o pensamento formula as
idéias puras.
Psicologia
da forma e fenomenologia
Em nosso século, porém, a Filosofia alterou
bastante essas duas tradições e as superou numa nova concepção do conhecimento
sensível. As mudanças foram trazidas pelo fenomenologia de Husserl e pela
Psicologia da Forma ou teoria da Gestalt (Gestalt é uma palavra
alemã que significa: configuração, figura estruturada, forma). Ambas mostraram:
● contra o empirismo, que a sensação não é
reflexo pontual ou uma resposta físico-fisiológica a um estímulo externo também
pontual;
● contra o intelectualismo, que a percepção
não é uma atividade sintética feita pelo pensamento sobre as sensações;
● contra o empirismo e o intelectualismo, que
não há diferença entre sensação e percepção.
Empiristas e intelectualistas, apesar de suas
diferenças, concordavam num aspecto: julgavam que a sensação era uma relação de
causa e efeito entre pontos das coisas e pontos de nosso corpo. As coisas
seriam como mosaicos de qualidades isoladas justapostas e nosso aparelho
sensorial (órgãos dos sentidos, sistema nervoso e cérebro) também seria um
mosaico de receptores isolados e justapostos. Por isso, a percepção era considerada
a atividade que “somava” ou “juntava” as partes numa síntese que seria o objeto
percebido.
Fenomenologia e Gestalt, porém,
mostram que não há diferença entre sensação e percepção porque nunca temos
sensações parciais, pontuais ou elementares, isto é, sensações separadas de
cada qualidade, que depois o espírito juntaria e organizaria como percepção de
um único objeto. Sentimos e percebemos formas, isto é, totalidades estruturadas
dotadas de sentido ou de significação.
Assim, por exemplo, ter a sensação e a
percepção de um cavalo é sentir/perceber de uma só vez sua cor (ou cores), suas
partes, sua cara, seu lombo e seu rabo, seu porte, seu tamanho, seu cheiro,
seus ruídos, seus movimentos. O cavalo-percebido não é um feixe de qualidades
isoladas que enviam estímulos aos meus órgãos dos sentidos (como suporia o
empirista), nem um objeto indeterminado esperando que meu pensamento diga às
minhas sensações: “Este objeto é um cavalo” (como suporia o intelectualista). O
cavalo-percebido não é um mosaico de estímulos exteriores (empirismo), nem uma
idéia (intelectualismo), mas é, exatamente, um cavalo-percebido.
As experiências conhecidas como
figura-e-fundo mostram que não temos sensações parciais, mas percepções globais
de uma forma ou de uma estrutura.
As experiências com formas “incompletas”
mostram que a percepção sempre percebe uma totalidade completa, o que seria
impossível se tivéssemos sensações elementares que o pensamento unificaria numa
percepção.
Se a percepção fosse uma soma de sensações
parciais e se cada sensação dependesse dos estímulos diretos que as coisas
produzissem em nossos órgãos dos sentidos, então teríamos que ver como sendo de
mesmo tamanho duas linhas que são objetivamente de mesmo tamanho. Mas a
experiência mostra que nós as percebemos como formas ou totalidades diferentes.
O
que é a percepção
A percepção possui as seguintes
características:
● é o conhecimento sensorial de configurações
ou de totalidades organizadas e dotadas de sentido e não uma soma de sensações
elementares; sensação e percepção são a mesma coisa;
● é o conhecimento de um sujeito corporal,
isto é, uma vivência corporal, de modo que a situação de nosso corpo e as
condições de nosso corpo são tão importantes quanto a situação e as condições
dos objetos percebidos;
● é sempre uma experiência dotada de
significação, isto é, o percebido é dotado de sentido e tem sentido em nossa história
de vida, fazendo parte de nosso mundo e de nossas vivências;
● o próprio mundo exterior não é uma coleção
ou uma soma de coisas isoladas, mas está organizado em formas e estruturas
complexas dotadas de sentido. Uma paisagem, por exemplo, não é uma soma de
coisas que estão apenas próximas umas das outras, mas é a percepção de coisas
que formam um todo complexo e com sentido: o vale só é vale por causa da
montanha, cuja altura e distância só podem ser avaliadas porque há o céu, as
árvores, um rio e um caminho; o verde do vale só pode ser percebido por
contraste com o cinza ou o dourado da montanha; o azul do céu só pode ser
percebido por causa do verde da vegetação e o marrom da terra; essa paisagem
será um espetáculo de contemplação se o sujeito da percepção estiver repousado,
mas será um objeto digno de ser visto por outros se o sujeito da percepção for
um pintor, ou será um obstáculo, se o sujeito da percepção for um viajante que
descobre que precisa ultrapassar a montanha. Em resumo: na percepção, o mundo
possui forma e sentido e ambos são inseparáveis do sujeito da percepção;
● a percepção é assim uma relação do
sujeito com o mundo exterior e não uma reação físico-fisiológica de um sujeito
físico-fisiológico a um conjunto de estímulos externos (como suporia o
empirista), nem uma idéia formulada pelo sujeito (como suporia o intelectualista).
A relação dá sentido ao percebido e ao percebedor, e um não existe sem o outro;
● O mundo percebido é qualitativo,
significativo, estruturado e estamos nele como sujeitos ativos, isto é, damos
às coisas percebidas novos sentidos e novos valores, pois as coisas fazem parte
de nossas vidas e interagimos com o mundo;
● o mundo percebido é um mundo intercorporal,
isto é, as relações se estabelecem entre nosso corpo, os corpos dos outros
sujeitos e os corpos das coisas, de modo que a percepção é uma forma de comunicação
que estabelecemos com os outros e com as coisas;
● a percepção depende das coisas e de nosso
corpo, depende do mundo e de nossos sentidos, depende do exterior e do
interior, e por isso é mais adequado falar em campo perceptivo para indicar
que se trata de uma relação complexa entre o corpo-sujeito e os corpos-objetos
num campo de significações visuais, tácteis, olfativas, gustativas, sonoras,
motrizes, espaciais, temporais e lingüísticas. A percepção é uma conduta vital,
uma comunicação, uma interpretação e uma valoração do mundo, a partir da
estrutura de relações entre nosso corpo e o mundo;
● a percepção envolve toda nossa
personalidade, nossa história pessoal, nossa afetividade, nossos desejos e
paixões, isto é, a percepção é uma maneira fundamental de os seres humanos
estarem no mundo. Percebemos as coisas e os outros de modo positivo ou negativo,
percebemos as coisas como instrumentos ou como valores, reagimos positiva ou
negativamente a cores, odores, sabores, texturas, distâncias, tamanhos. O mundo
é percebido qualitativamente, efetivamente e valorativamente. Quando percebemos
uma outra pessoa, por exemplo, não temos uma coleção de sensações que nos
dariam as partes isoladas de seu corpo, mas a percebemos como tendo uma fisionomia
(agradável ou desagradável, bela ou feia, serena ou agitada, sadia ou doentia,
sedutora ou repelente) e por essa percepção definimos nosso modo de relação com
ela;
● a percepção envolve nossa vida social, isto
é, os significados e os valores das coisas percebidas decorrem de nossa
sociedade e do modo como nela as coisas e as pessoas recebem sentido, valor ou
função. Assim, objetos que para nossa sociedade não causam temor, podem causar
numa outra sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade, um espelho ou uma
fotografia são objetos funcionais ou artísticos, meios de nos vermos em imagem;
no entanto, para muitas sociedades indígenas, ver a imagem de alguém ou a sua
própria é ver a alma desse alguém e fazê-lo perder a identidade e a vida, de
modo que a percepção de um espelho ou de uma fotografia pode ser uma percepção
apavorante;
● a percepção nos oferece um acesso ao mundo
dos objetos práticos e instrumentais, isto é, nos orienta para a ação cotidiana
e para as ações técnicas mais simples; a percepção é uma forma de conhecimento
e de ação fundamental para as artes, que são capazes de criar um “outro” mundo
pela simples alteração que provoca em nossa percepção cotidiana e costumeira.
Basta lembrar aqui o texto de Clarice Lispector sobre o inseto e sobre o ovo
(unidade 3, capítulo 8);
● a percepção não é uma idéia confusa ou
inferior, como julgava a tradição, mas uma maneira de ter idéias sensíveis
ou significações perceptivas;
● a percepção está sujeita a uma forma
especial de erro: a ilusão, como vimos no exemplo dos versos de Mário de
Andrade sobre a garoa de São Paulo, a confusão do branco e do negro, do pobre e
do rico.
Percepção
e teoria do conhecimento
Do ponto de vista das teorias do
conhecimento, há três concepções principais sobre o papel da percepção:
1. nas teorias empiristas, a percepção é a
única fonte de conhecimento, estando na origem das idéias abstratas formuladas
pelo pensamento. Hume, por exemplo, afirma que todo conhecimento é percepção e
que existem dois tipos de percepção: as impressões (sensações, emoções e
paixões) e as idéias (imagens das impressões);
2. nas teorias racionalistas
intelectualistas, a percepção é considerada não muito confiável para o
conhecimento porque depende das condições particulares de quem percebe e está
propensa a ilusões, pois freqüentemente a imagem percebida não corresponde à
realidade do objeto.
Vemos o Sol menor do que a Terra, mas ele
realmente é maior do que ela. Descartes menciona o modo como percebemos um
bastão mergulhado na água: embora o bastão seja reto e contínuo, percebemos a
parte mergulhada como se o bastão estivesse entortado e como se houvesse
descontinuidade entre a parte que está fora da água e a parte mergulhada. O
bastão é percebido como distorcido, embora, na realidade, não esteja deformado.
Para a concepção racionalista
intelectualista, o pensamento filosófico e científico deve abandonar os dados
da percepção e formular as idéias em relação com o percebido; trata-se de
explicar e corrigir a percepção;
3. na teoria fenomenológica do conhecimento,
a percepção é considerada originária e parte principal do conhecimento humano,
mas com uma estrutura diferente do pensamento abstrato, que opera com idéias.
Qual a diferença? A percepção sempre se realiza por perfis ou perspectivas,
isto é, nunca podemos perceber de uma só vez um objeto, pois somente percebemos
algumas de suas faces de cada vez; no pensamento, nosso intelecto compreende
uma idéia de uma só vez e por inteiro, isto é, captamos a totalidade do sentido
de uma idéia de uma só vez, sem precisar examinar cada uma de suas “faces”.
Na percepção, nunca poderemos ver, de uma só
vez, as seis faces de um cubo, pois “perceber um cubo” significa, justamente,
nunca vê-lo de uma só vez por inteiro. Ao contrário, quando o geômetra pensa o
cubo, ele o pensa como figura de seis lados e, para seu pensamento, as seis
faces estão todas presentes simultaneamente.
Quanto ao problema da ilusão, a fenomenologia
considera que ela não existe. Se tomarmos, por exemplo, o verso de Mário de
Andrade, diremos que perceber uma pessoa sob a garoa ou a neblina de São Paulo
é percebê-la como negra de longe e branca de perto ou como branca de longe e
negra de perto: são quatro percepções diferentes e que são como são porque
perceber é sempre perceber um campo de objetos que permite corrigir uma
percepção por meio de outra.
Podemos compreender mais claramente a
diferença entre as três concepções através de um exemplo, oferecido pelo
filósofo Merleau-Ponty:
Olhemos para uma piscina ladrilhada de
verde-claro e rodeada por um jardim. O que percebemos?
O empirista dirá que recebemos estímulos de todos os elementos que estão em nosso campo visual: cores, sons, reflexos; que esses estímulos isolados são levados a nosso cérebro, onde causam uma impressão e que a consciência dessa impressão é a percepção como soma dos estímulos.
O intelectualista nos dirá que vemos qualidades sensíveis – líquido, cor, reflexos – de uma realidade distorcida: vemos árvores sobre a superfície das águas, embora as árvores não estejam ali; vemos os ladrilhos do fundo como se fossem curvos, côncavos, convexos, embora sejam quadrados e lisos; vemos a água colorida, quando, na realidade, ela não tem cor. Vemos, portanto, algo que nosso intelecto ou nosso pensamento nos avisa que não corresponde à realidade.
O fenomenólogo, porém, mostrará que perceber-uma-piscina-ladrilhada-com-água-e-rodeada-de-árvores é perceber exatamente isso: os reflexos das árvores na água, as nuances de cor no líquido, a movimentação dos ladrilhos. Não estamos recebendo estímulos que formarão impressões no cérebro: estamos percebendo uma forma organizada ou uma estrutura.
O empirista dirá que recebemos estímulos de todos os elementos que estão em nosso campo visual: cores, sons, reflexos; que esses estímulos isolados são levados a nosso cérebro, onde causam uma impressão e que a consciência dessa impressão é a percepção como soma dos estímulos.
O intelectualista nos dirá que vemos qualidades sensíveis – líquido, cor, reflexos – de uma realidade distorcida: vemos árvores sobre a superfície das águas, embora as árvores não estejam ali; vemos os ladrilhos do fundo como se fossem curvos, côncavos, convexos, embora sejam quadrados e lisos; vemos a água colorida, quando, na realidade, ela não tem cor. Vemos, portanto, algo que nosso intelecto ou nosso pensamento nos avisa que não corresponde à realidade.
O fenomenólogo, porém, mostrará que perceber-uma-piscina-ladrilhada-com-água-e-rodeada-de-árvores é perceber exatamente isso: os reflexos das árvores na água, as nuances de cor no líquido, a movimentação dos ladrilhos. Não estamos recebendo estímulos que formarão impressões no cérebro: estamos percebendo uma forma organizada ou uma estrutura.
Não estamos tendo ilusões visuais, vendo
ladrilhos “apesar” da água que os deformaria; nem estamos vendo a água “apesar”
dos reflexos das árvores que a deformariam. Estamos vendo e percebendo
ladrilhos-de-uma-piscina-com-água (portanto, formas móveis no chão e nas
paredes da piscina); estamos vendo ou percebendo
as-árvores-à-volta-de-uma-piscina-com-água (portanto, refletindo-se nas águas e
agitando-se aos ventos); estamos vendo ou percebendo a água-de-uma-piscina
(portanto, agitando os ladrilhos, recebendo reflexos, mudando de cor e de
tonalidade). Isso é perceber.
A percepção se realiza num campo perceptivo e
o percebido não está “deformado” por nada, pois ver não é fazer geometria nem
física. Não há ilusões na percepção; perceber é diferente de pensar e não uma
forma inferior e deformada do pensamento. A percepção não é causada pelos
objetos sobre nós, nem é causada pelo nosso corpo sobre as coisas: é a relação
entre elas e nós e nós e elas; uma relação possível porque elas são corpos e
nós também somos corporais.
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