TEXTOS 1º BIMESTRE 2º ANO VISCONDE DE MAUA


Situação de aprendizagem 1 1º Bimestre
O eu racional
O Objetivo desta Situação de Aprendizagem é fazer com eu você se reconheça como um ser raciona e seja introduzido ao estudo da ética como sujeito ético, isto é, como alguém capaz de fazer escolhas por meio de princípios racionais que reconhecem valores. Para isso vamos utilizar o cogito cartesiano como suporte.
René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye, França, em uma família de prósperos burgueses. Decepcionado com a formação jesuíta(tomista aristotélica)  que recebera, decidiu buscar a ciência p conta própria, esforçando-se por decifrar o “grande livro do mundo”. Em suas inúmeras viagens pela Europa, estabeleceu contatos com vários sábios de seu tempo, entre eles Blaise Pascal (1623-1662)
Temendo perseguições religiosas e tendo em mente a condenação de Galileu, tomo uma série cautelas para expor suas ideias. Autocensurou vários trechos de suas obras para evitar tanto a repressão da Igreja Católica como a reação fanática dos protestantes. Apesar disso, o que publicou é suficientemente vasto e valioso para situá-lo como um dos pais da filosofia moderna.
Dúvida metódica
Descartes afirmava que, para chegarmos a verdade, é preciso, de inicio, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida. É necessário questionar tudo e analisar criteriosamente se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
Fazendo uma aplicação metódica da dúvida, o filósofo percebeu que a única verdade totalmente livre de dúvida era que ele pensava (“Penso, logo existo”). Para ele, essa seria uma verdade absolutamente firme, certa e segura, que por isso mesmo deveria ser adotada, como principio básico de toda a sua filosofia.
Dualismo
Aplicando à dúvida metódica, Descartes chegou a conclusão de que no mundo haveria apenas duas substâncias essencialmente distintas e separadas:
Ø  A substância pensante (res gogitans), correspondente a esfera o eu ou da consciência; e
Ø  A substância extensa (res extensa), correspondente ao mundo corpóreo, material.
O ser humano seria composto por essas duas substâncias, enquanto a natureza seria apenas substância extensa. Essa era uma concepção que se chocava com a noção tomista-aristotélica predominante, segundo a qual haveria tantas substâncias quantos seres existissem.
A metafísica cartesiana também incluía uma substância infinita (res infinita), relativa a Deus, o ser que teria criado todas as coisas. Mas essa substância não seria parte deste mundo, pois o Deus cartesiano é transcendente, está separado de sua criação.
Racionalismo
Descartes era um racionalista convicto. Recomendava que desconfiássemos das nossas percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos frequentes erros do conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas externas devia ser seguido através do trabalho lógico da mente.
Descartes atribuía, grande valor a matemática como instrumento de compreensão da realidade. Ele próprio foi um grande matemático, sendo considerado um dos grandes criadores da geometria analítica.
Método cartesiano
Da sua obra Discurso do método, podemos destacar quatro regras básicas, consideradas por Descartes capazes de conduzir o espírito na busca da verdade.
Regra da evidência: só aceitar algo como verdadeiro desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.
Regra da análise: dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolvê-las melhor.
Regra da síntese: reordenar o raciocínio indo dos problemas mais simples aos mais complexos.
Regra da enumeração: realizar verificações completas e gerais para se ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido.
Textos de Gilberto Cotrim.
 Situação de aprendizagem 2 1º bimestre
Introdução a ética
O grande desafio, nesta Situação de Aprendizagem, é fazer com  se torne um valor e uma operação da vida cotidiana do raciocínio, ou seja, o objetivo é fazer com que o aluno aprenda a exercitar a reflexão ética, nas mais variadas situações de sua vida individual e coletivamente.
Distinção entre moral e ética (Gilberto Cotrim)
O que é moral? E qual a diferença entre moral e ética?
Embora os termos ética e moral por vezes sejam usados como sinônimos, é possível fazer uma distinção entre eles.
A palavra moral vem do latim mos, mor-, “costumes”, e refere-se ao conjunto de normas que orientam o comportamento humano tendo por base os valores próprios a uma dada comunidade ou cultura.
Como as comunidades humanas são distintas entre si, tanto no espaço quanto no tempo, os valores também podem ser distintos de uma comunidade para outra, que origina códigos morais diferentes.
Pertence ao vasto campo da moral a definição sobre questões fundamentais como: o que devo fazer para ser justo? Quais valores devo escolher para guiar minha vida? Há uma hierarquia de valores que deve ser seguida?
A palavra ética, por sua vez, vem do grego ethikos, “modo de ser”, “comportamento”. Portanto termos etimologicamente os dois termos querem dizer a mesma coisa.
No entanto ética designa mais especificamente a disciplina que investiga o que é a moral, como ela se fundamenta e se aplica. Ou seja, a ética estuda os diversos sistemas morais elaborados pelos seres humanos, buscando compreender a  fundamentação das normas e interdições (proibições) próprias a cada um e explicar seus pressupostos,isto é, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que os sustentam.
Ética na história Antiguidade: ética grega
Os critérios de Sócrates
            Os sofistas afirmavam que não existem normas e verdades universalmente válidas. Tinham, portanto, uma concepção ética relativista ou subjetivista.
            Ao contrário dos sofistas, Sócrates sustentou a existência de um saber válido, que decorre do conhecimento da essência humana, a partir do qual pode conceber a fundamentação de uma moral universal. E o que é essencial no ser humano? Sua alma racional. O ser humano é essencialmente razão. E é na razão que se devem, portanto fundamentar as normas e os costumes morais. Por isso dizemos que a ética socrática é racionalista. O indivíduo que age conforme a razão age corretamente.
Ética do equilíbrio
            Aristóteles também desenvolveu uma ética racionalista. Procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do individuo concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para que o tendemos? Respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade.
            E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o filósofo, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza ou conforto material. A felicidade maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais especificamente humano a razão.
            O individuo que se desenvolve no plano teórico, contemplativo,  pode compreender a essência da felicidade e realizá-la de forma consciente. Mas isso seria privilégio de uma minoria. Segundo o filósofo, a pessoa comum, aquela que não pode se dedicar à atividade teórica aprenderia a agir corretamente pelo hábito. Assim o filósofo propôs uma ética do meio – termo, na qual virtude consistira em buscar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
Os critérios de Epicuro
            Epicuro (341-271 a.C.) defendia que o prazer é o principio para uma vida feliz.
            No entanto, ele distinguia dois grandes grupos de prazeres. O primeiro reúne os prazeres mais duradouros, que encantam o espírito, como a boa conversação, a contemplação das artes, a audição da música. O segundo inclui os prazeres mais imediatos, muitos dos quais são movidos pela explosão das paixões e que ao final podem resultar em dor e sofrimento.
            Uma das principais causas de angústia e infelicidade segundo Epicuro são as preocupações religiosas e as superstições. Ele se refere, aqui, ao temor que certas crenças e religiões. Por exemplo os gregos temiam muito em ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Epicuro sustentava que as pessoas deveriam se livrar de outro grande fator de angústia e infelicidade o medo da morte.
Situação de aprendizagem 3
A liberdade
Moral e liberdade (Gilberto Cotrim)
            Pode parecer estranho vincular a ideia de norma moral à ideia de liberdade, você não acha? A consciência talvez seja a melhor característica que distingue os homens dos animais. Ela permite o desenvolvimento do saber e da racionalidade, que se empenha em separar o falso do verdadeiro.
            Além dessa consciência racional, lógica, o ser humano também possui uma consciência moral, isto é, a faculdade de observar a própria conduta e formular juízos sobre os atos passados, presentes e as intenções futuras. E depois de julgar, tem condições, de escolher entre as circunstâncias possíveis seu próprio caminho na vida. A essa possibilidade que cada indivíduo tem de escolher seu caminho, de construir sua maneira d ser na história, chamamos de liberdade.
Liberdade versus determinismo
            Somos realmente livres para decidir? E se somos que liberdade é essa?
            Do ponto de vista da discussão filosófica, podemos sintetizar três respostas diferentes para esses problemas: uma que enfatizou o determinismo, outra que destacou o papel da liberdade e uma terceira que procurou estabelecer uma dialética entre os dois termos. Vejamos cada uma.
Ênfase no determinismo
            De acordo com essa interpretação, a liberdade não existe, pois o ser humano seria sempre determinado, seja por sua natureza biológica, seja por sua natureza histórico-social. Em outras palavras, as ações individuais seriam causadas e determinadas por fatores naturais ou constrangimentos sociais e a liberdade seria apenas uma ilusão.
            Essa concepção encontra-se no pensamento de filósofos materialistas do século XVIII, tais como os franceses Helvetius (1715-1771) E Holbach (1723-1789).
Ênfase na liberdade
            Para essa via de interpretação o ser humano é sempre livre. Embora os defensores dessa posição admitam a existência das determinações de origem externa, sociais, e as de origem interna, como desejos, impulsos, etc., sustentam que o individuo possui uma liberdade moral que está acima dessas determinações. Assim, apesar de todos os fatores sociais e subjetivos que atuam sobre os indivíduos, ele sempre possui uma possibilidade de escolha e pode agir livremente a partir de sua autodeterminação.
            A maior expressão dessa concepção filosófica acerca da liberdade é encontrada no pensamento de Jean Paul Sartre (1905-1980), que afirmou que “o homem está condenado a ser livre” (“o existencialismo é um humanismo”, p. 9)
Dialética entre liberdade e determinismo

            Segundo essa via de interpretação, o ser humano é determinado e livre ao mesmo tempo. Determinismo e liberdade não se excluem, mas se complementam. Nessa perspectiva, não faz sentido pensar em uma liberdade absoluta nem em uma negação absoluta da liberdade.
            A liberdade é sempre uma liberdade concreta, situada no interior de um conjunto de condições objetivas de vida. No entanto, embora nossa liberdade seja restringida por fatores objetivos que cercam nossa existência factual, podemos sempre atuar no sentido de alargar nossas possibilidades dessa liberdade, e isso, será tanto mais eficiente quanto maior for a nossa consciência a respeito desses fatores.
            Essa concepção é encontrada no pensador holandês Espinosa e nos filósofo alemães Hegel e Marx. À parte as muitas diferenças entre seus pensamentos, o ponto comum é a ideia de que a liberdade é a compreensão da necessidade (dos determinismos).



Situação de aprendizagem 4 Autonomia

Maioridade humana (Gilberto Cotrim)
            Em sua obra o que ilustração, Kant (1724-1804) sintetiza seu otimismo em relação à possibilidade de o ser humano guiar-se por sua própria razão, sem se deixar enganar pelas crenças e tradições e opiniões alheias.
            Nela descreve o processo de ilustração como sendo a saída do ser humano de sua “menoridade”, ou seja, um momento em que o indivíduo, como uma criança que cresce e amadurece para fundamentar sua própria maneira de agir, sem a doutrinação  ou tutela de outrem.
            Portanto, o ser humano, como ser dotado de razão e liberdade, é o centro da filosofia kantiana. Seus estudos partem da investigação sobre as condições nas quais se dá o conhecimento, realizando um exame crítico da razão, contido em sua obra mais célebre, Crítica da razão pura. Nela confessa que Hume o havia despertado do sono dogmático e institui o que ficou conhecido como tribunal da razão.
            Ética do dever
            Em seus textos Crítica da razão pura, e Fundamentação da metafísica dos costumes, o filósofo alemão, aponta a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas universais, uma vez que constitui um predicado universal dos seres humanos. As normas morais teriam, portanto, sua origem na razão.
            Embora, em Kant, as normas morais devam ser obedecidas como deveres, a noção kantiana de dever confunde-se com a própria noção de liberdade, porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, isto é, aquilo que a razão, no uso da sua liberdade, determina correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos racionais.
            Kant reforça essa ideia ao dizer que um ato só pode ser considerado moral quando for praticado de forma autônoma, consciente, e por dever. Com isso, acentua o reconhecimento do dever como uma expressão da racionalidade humana, única fonte legítima da moralidade.
            A clareza dessa ideia é expressa pelo filósofo
            Age segundo uma máxima (um principio) tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. (fundamentação da metafísica dos costumes, p.59).
            Essa exigência   é denominada por Kant de imperativo categórico, ou seja, é uma determinação imperativa, que deve ser observada sempre, em toda e qualquer decisão ou ato moral que, venhamos, a praticar. Em outras palavras, o que o filósofo quer dizer é que nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada.

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